Transformar cenários de alta complexidade e reescrever futuros é trabalhoso e requer alto investimento, mas é possível
O trabalho de equipe técnica multidisciplinar (psicólogo, assistente social e pedagogo) somado à atuação dos orientadores socioeducativos e em sinergia com as políticas públicas de assistência e proteção mostra-se como o caminho para se restabelecer vínculos familiares e transformar as situações que levam à institucionalização de uma criança ou adolescente.
Quando recebemos um menor em nossos Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA), logo após a recepção, constrói-se o Plano Individual de Atendimento (PIA). Ele norteia as intervenções técnicas que devem ser realizadas, por exemplo:
▸ Escuta das partes (incluindo a família estendida/ampliada, o que envolve uma busca ativa)
▸ Avaliações, estudo e análise interpretativa sobre a realidade social, econômica, psíquica e educacional que atravessam o ambiente intrafamiliar.
▸ Informação, comunicação e defesa de direitos
▸ Orientação e encaminhamentos sobre/para os serviços de assistência disponíveis na comunidade local
- Centro de ⁃ Atenção Psicossocial álcool e outras drogas (CAPS ad) nos casos de abuso de substânciasCentro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSi) no caso de transtornos mentais graves e persistentes
▸ Capacitação da família em sua função protetiva, incluindo manejo de conflitos e reorganização da vida cotidiana
▸ Monitoramento dos encaminhamentos realizados
▸ Atividades de convivência familiar supervisionadas
▸ Atividades socioeducativas para trabalhar questões de pertencimento social, identidade, raça, gênero e etnia, entre outras temáticas fundamentais para o processo de transformação
Não é à toa que os serviços de acolhimento institucional são classificados como de alta complexidade. “Não adianta exigir da família determinadas funções, muitas vezes ela precisa ser instruída sobre o que é cuidar e como desenvolver esse papel protetivo, há ciclos de violências que precisam ser quebrados”, explica Brenna Laís da Silva, gestora do SAICA 2 que até maio integrou a equipe técnica do SAICA 1 como psicóloga.
A ótima notícia é que transformar esses cenários e reescrever futuros é possível. Cerca de 600 intervenções dentre as listadas anteriormente são realizadas pelas equipes técnicas das 4 unidades de acolhimento da CCASA por mês. Quer um dado animador? Ao longo de 2021, foram encaminhados para SAICA 1 – um dos quatro serviços de acolhimento integral da CCASA com 15 vagas disponíveis – 29 crianças e adolescentes. Desses:
▸ 11 retornaram às famílias de origem (às vezes, para a família ampliada, ou seja, foram morar com uma tia ou os avós);
▸ 15 foram transferidos para outros acolhimentos (isso se dá porque outras instituições podem estar em local mais favorável para o restabelecimento de vínculos familiares);
▸ e 3 foram integrados a uma família substituta por adoção.
Quanta gente engajada para isso ser possível? Nem sabemos dizer ao certo, são muitos os agentes envolvidos, do cozinheiro que atua no acolhimento ao voluntário que doa recursos para a CCASA, do funcionário público que realizou o encaminhamento por medida protetiva a quem desenhou uma política pública.