Os acolhidos têm voz

Regras dos Saicas são discutidas em assembleias

“A gente diz o que gostaria de comer, pede flexibilização nos horários, fala sobre alguns BOs que rolam entre os acolhidos… Quando necessário, até são marcadas assembleias extraordinárias”, afirma Isabel*, uma dos acolhidos dos Saicas mantidos pela Casa da Criança e do Adolescente de Santo Amaro (CCASA).

Essa fala resume bem o espírito das assembleias ordinárias que acontecem uma vez por mês nos serviços de acolhimento integral. Delas participam os acolhidos (exceto os bebês e crianças pequenas) do serviço, educadores e/ou membros da equipe técnica – assistente social, pedagogo e psicólogo. “Não podemos dizer que é uma democracia porque a palavra final é do acolhimento, não se faz uma votação e o que a maioria dos acolhidos deseja vira regra, mas todos têm voz e liberdade de expor seus pleitos, e, na medida do possível, eles são atendidos”, explica Gustavo Batista, Gestor do Saica 3 da CCASA. Segundo ele, as assembleias servem também para que as regras estabelecidas sejam sempre relembradas. Todos precisam conhecê-las para que o dia a dia flua bem, para que a vivência no acolhimento seja salutar.

Para que fique mais claro, os acordos envolvem horário de retorno ao Saica, se auxiliarão com a lavagem da própria roupa, se auxiliarão em alguma tarefa na cozinha, horário para uso do celular (eles devem deixar os aparelhos com os educadores às 22h), horário para o banho etc. “Eles pleitearam, por exemplo, que, no período de férias escolares e às sextas e aos sábados, pudessem ficar mais tempo com o celular. Foi possível atendermos a essa solicitação”, conta o gestor. “Certa vez, uma menina disse que gostaria de ter um gato. Seja pelo custo envolvido, seja pelos outros moradores da casa uma vez que alguns podem ser alérgicos, dentre outras razões, não foi possível atender totalmente a esse pedido, mas demos a ela um lindo gato de pelúcia”, diz Gustavo. “E por que não incluir lasanha no cardápio se um acolhido disse que é sua comida favorita?”, completa ele. “Estamos no momento com um acolhido que é diabético. Ele pesquisa muito receitas que poderia preparar para si e gosta de fazê-las. Flexibilizamos a entrada dele na cozinha para que ele possa preparar alguns pratos”, dá esse outro exemplo o Gustavo.

Enfim, conversando de forma adequada, a vivência em um Saica torna-se mais prazerosa, mais enriquecedora, mais pacífica, mais edificante…

*O nome foi alterado para proteção da adolescente.

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