Ex-acolhida da CCASA, hoje com 33 anos, seguiu carreira na área de Economia

“Morei na instituição dos 7 até completar 18 anos. Viver com pessoas tão diferentes é desafiador”, diz Andrea

Andrea Almeida* pediu no bate-papo que gerou este conteúdo: “Não quero que o depoimento transpareça que o acolhimento institucional é algo romântico, nem que haja frases tais como ‘Um exemplo a ser seguido’”. De fato, uma criança ou adolescente fora do convívio familiar é uma situação atípica. Trata-se, digamos, de um plano B. Hoje com 33 anos, Andrea mora sozinha e trabalha na área de estratégia de crédito de uma indústria farmacêutica, mas por mais de uma década teve de aprender a conviver e dividir o espaço com outros.

Encontro regularmente com boa parte daqueles que foram meus colegas no serviço de acolhimento da Casa da Criança e do Adolescentes de Santo Amaro (CCASA) e com alguns que lá trabalhavam, como a Tia Wilma, a Tia Claudia. Temos um grupo no WhatsApp com umas quarenta pessoas, e trimestralmente rola algo presencial. Relembramos histórias do passado, rimos, somos uma rede de apoio para os que estão atravessando alguma dificuldade.

Morar com pessoas tão diferentes e com histórias distintas e duras é um desafio. Tenho boas lembranças dos cursos que frequentei na CCASA: de informática, de confeitaria, de bijuteria… Havia um grupo de voluntários bem atuante, alguns, da empresa Dow Química, me apoiaram demais, inclusive após eu ter saído do acolhimento. Eu entrei na Unip para cursar Economia quando eu ainda estava no acolhimento em parte pelo estímulo que me deram, e eles seguiram me ajudando com o custeio dos meus estudos depois. Por três vezes, passei um tempo fora do Brasil, na Inglaterra, fazendo cursos de inglês, idioma que preciso dominar por questões profissionais.

Os acolhimentos recebem muitas crianças e adolescentes que são como pedras brutas, precisam de pessoas que olhem para o potencial que têm. Eu, como muitos, vim de uma situação de pobreza extrema. Tive o privilégio de ter pessoas que olharam para mim, me incentivaram, mas até hoje não me conformo com a situação que me levou ao acolhimento. *O nome foi alterado para preservar sua identidade.

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