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Sabe aquele jogador profissional que é contratado pelo time que torce?

Essa é a Tuani, pedagoga que compõe a equipe técnica do Saica 1

“Eu sei que você entende pelo que estou passando” foi a frase que um adolescente acolhido disse à Tuani Regina dos Santos em um momento de desorganização. A desafiadora história de vida dessa profissional que atua como pedagoga em um dos Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Saica 1) da CCASA respalda o que dela foi dito. Sétima de onze irmãos que não permaneceram com a mãe biológica por conta de um histórico de adicção da genitora, dos 9 aos 12 anos Tuani foi uma dos tantos que precisam ter seus direitos protegidos por um serviço de acolhimento. Isso porque o pai também não pôde assumir seus cuidados, e duas familiares que a receberam na infância faleceram. Aos 12 anos, ela deixa o acolhimento para ir morar com outro parente, uma tia, irmã de sua mãe, mas foi emancipada aos 15 anos para tocar sozinha sua vida por conta de sua orientação sexual.

Arrumei um emprego no McDonald’s e com isso conseguia me virar. Apesar dos vínculos familiares fragilizados, nunca me envolvi com drogas, meu escape foram as artes. Assistia a animes, lia mangás, jogava videogame e assim fui lidando com minhas dores emocionais e entendendo meu valor. Nunca abandonei os estudos e consegui uma boa nota no Enem, o que me garantiu uma bolsa para cursar Pedagogia.

Nessa época de faculdade, descobri um câncer no útero e passei por uma histerectomia e por tratamento quimioterápico e radioterápico. Venci a doença! Sempre tive o desejo de atuar na área social. Trabalhei em um Centro para a Juventude (CJ) e em uma organização na região da cracolândia em São Paulo. Abordava usuários a fim de conduzi-los para tratamento. Ao mesmo tempo, envolvi-me com música – toco percussão e canto. Em uma cooperativa de reciclagem em que atuei, conheci o movimento negro e me enxerguei como uma mulher preta que pode contribuir para uma sociedade com oportunidades iguais para todos.

Por conta das dificuldades oriundas da pandemia de COVID-19, o projeto em que eu atuava na época encerrou-se. Fiquei um tempo vivendo da música até que consegui entrar na Casa da Criança e do Adolescente de Santo Amaro como orientadora educacional no Saica 3. Após três meses, o gestor do acolhimento, o Gustavo, me indicou para uma vaga como pedagoga na equipe técnica do Saica 1 e faz três meses que atuo nessa função. A promoção contribuiu para uma melhor qualidade de vida, o que inclui uma moradia melhor para mim e para os meus dois irmãos gêmeos que eu acolho e moram comigo e com minha companheira. Posso até planejar a compra de um imóvel, algo que não fazia parte dos meus melhores sonhos já que até em situação de rua já estive.

É a primeira vez que integro a equipe técnica de um acolhimento. Fui muito bem recebida pelos colegas, é um time muito coeso. A gestora Rosangela Oliveira me abraçou, trata-me de maneira humanizada e ensina o que ainda não sei, algumas coisas ainda são muito novas para mim. Estou com 33 anos e tenho muitos sonhos. Um dia, gostaria de ser gestora de um equipamento social. Sigo me aperfeiçoando, ano que vem quero iniciar uma graduação em Psicologia. A música segue em paralelo, na própria CCASA tenho tido a oportunidade de lançar mão desse precioso recurso – recentemente colaborei com a organização de um sarau.

Penso que minha história de vida me ajuda a olhar o outro com mais delicadeza e profundidade. Ao mesmo tempo, mostra que obstáculos não invalidam a nossa potência como ser humano.

Que privilégio termos entre os 103 colaboradores da Casa da Criança e do Adolescente gente como a Tuani! Sucesso e conte com a gente na jornada!