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Na CCASA, a gestão é profissional

Desde 1º de junho de 2022, Valéria Gerolamo assumiu o posto de Gerente Geral da Casa da Criança e do Adolescente de Santo Amaro (CCASA). Apesar de ser voluntária no terceiro setor há décadas, esse é o seu primeiro cargo em uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, e a experiência acumulada no ambiente corporativo tem contribuído para que as melhores práticas de gestão sejam aplicadas na entidade. Especializada em Administração de empresas pela FGV, ela trabalhou por nove anos na P&G, lecionou em cursos de MBA corporativo, foi mentora e, antes de aceitar o convite da CCASA, atuava na Duplo Efeito, empresa de gestão e mentoria na área de saúde da qual era uma das sócias-fundadoras. Nesta entrevista, ela diz como conheceu a CCASA, pontua algumas marcas de sua atuação como Gerente Geral e compartilha seus sonhos para o futuro da organização.

CCASA – Como começou seu envolvimento com a CCASA?

Valéria Gerolamo (VG) – Há cerca de 10 anos, fui convidada para criar uma palestra para um evento cuja renda seria voltada para a Casa da Criança e do Adolescente de Santo Amaro. Antes de aceitar, pesquisei a respeito da organização e gostei do que vi. Logo em seguida, participei da feijoada anual beneficente da organização, lá encontrei algumas pessoas envolvidas com a causa que eu conhecia por outras fontes. Tornei-me então voluntária, colaborei com o planejamento estratégico, com eventos, captação, ajudava a angariar notas fiscais, enfim, ajudava com o que fosse necessário. Não desenvolvia atividades junto às crianças e adolescentes diretamente, eram trabalhos mais voltados à área administrativa. Ano passado, então, veio o convite da diretoria para eu ser a Gerente Geral da Casa e decidi encarar o desafio.

CCASA – Quais foram os maiores desafios?

VG – Tive de aprender muito, e continuo aprendendo, sobre as peculiaridades dos serviços de acolhimento e atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Atuamos em parceria com a Prefeitura de São Paulo, com quem temos convênio, e interagimos com órgãos como a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), as Supervisões de Assistência Social (SAS), o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Nesse aspecto, nossa equipe de gestores, seis ao todo, sejam eles dos Centros para Crianças e Adolescentes (CCAs), dos Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICAs) ou da Casa Lar, colaborou demais, são pessoas com larga experiência. Outro desafio é cuidar do emocional, pois lidamos com situações de alta complexidade, e não tem como não se envolver com as histórias dessas crianças e adolescentes. Quero e trabalho para que eles tenham as mesmas oportunidades que meus filhos têm para desenvolver suas potencialidades.

CCASA – Quais os sonhos para o futuro da organização?

VG – Temos uma Diretoria Voluntária composta por onze pessoas e há também um grupo um pouco maior que participa ativamente das reuniões e decisões da organização. Eu presto contas a essa diretoria, sou por eles ouvida e consultada, mas não decido os rumos da entidade. Nem todos pensam da mesma forma, o que é enriquecedor. Eu, particularmente, me preocupo muito com os que, quando fazem 18 anos, têm de sair da instituição, isso é uma norma que temos de seguir. Atuamos para que, na medida do possível, eles já estejam empregados, tenham o mínimo necessário para seguir com autonomia e dignidade, mas sabemos o quanto é difícil encarar a vida sem o apoio de uma família. Se tivéssemos, além de nossos equipamentos, também uma República Jovem (oferece apoio e moradia subsidiada a jovens de 18 a 21 anos em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social), penso que fecharíamos melhor esse ciclo de apoio.

CCASA – O que seria necessário para tornar isso uma realidade?

VG – Temos de ser ousados – Dona Ieda, nossa antiga presidente, nos ensinou isso –,

mas com responsabilidade. Hoje, mesmo com o apoio do município, ainda temos de arrecadar, todos os meses, R$ 100 mil para arcar com os custos das 200 vagas para acolhimento e atendimento que disponibilizamos. Como se diz, matamos um leão por dia para honrar nossos compromissos. É claro que em organizações como a CCASA a necessidade de captação de recursos é uma constante, contudo, sustentabilidade financeira é nossa meta primeira no momento. Precisamos aumentar o número de contribuintes regulares, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, temos pleiteado verbas oriundas de emendas parlamentares, há mais por fazer em termos do que podemos arrecadar com notas fiscais e assim por diante.

CCASA – Quais seriam algumas de suas marcas na gerência da organização?

VG – A instituição tem mais de 40 anos, quando iniciei como Gerente Geral em junho do ano passado, as coisas já aconteciam, mas tudo sempre pode, e deve, ser aprimorado continuamente. Procuro escutar o que a equipe tem a dizer, valorizar cada um, trazer todos a um outro nível de comprometimento com a nossa causa. São mais de 100 funcionários hoje entre as 6 unidades e a central administrativa. Já implementamos novas ferramentas e métricas de gestão, e buscamos otimizar os diferentes processos internos. Estamos fazendo a lição de casa!